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Clarice na cidade

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje

As tardes são as partes mais perigosas

Quando chega o momento, as coisas que fizera riem de você

Elas debocham, sem dó

Quando nada mais precisa de você, para que você serve?

Por que o imperador se ergueu tão cedo e de coroa solene se assentou em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje

O nosso imperador conta saudar o chefe deles

Tem pronto para dar-lhe um pergaminho no qual estão escritos muitos nomes e títulos

Antes da idade adulta, a sensação de sua vida era uma enfermidade

Você emerge desta descobrindo que a felicidade não existia desde lá

Nunca existiu

Mas o trabalho, ah... o trabalho

Este dominou pessoas, persistindo, prometendo alegrias insistentes

Por que hoje empunham bastões tão preciosos de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bårbaros chegam hoje, tais coisas os deslumbram

Observa, mas nada vê

O mundo existe à volta, muda, incorpora, age

No entanto, você não vê

Ninguém vê, ninguém liga

Por que não vêm os dignos oradores derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje

Por que subitamente esta inquietude?

Que seriedade nas fisionomias

A felicidade? O poder de escolher o que e quando fazer?

Conto-lhe um segredo: é falso

Ninguém tem tal poder

Você, muito menos

Por que tão rápido as ruas se esvaziam e todos voltam para casa preocupados?

Porque já é noite

Os bárbaros não vêm e gente recém-chegada das fronteiras diz que não há mais bárbaros

Sem pânico, no entanto

Há a possibilidade de quebra

 O problema é que talvez esta não seja suficiente

A inquietação vai-se embora, vagando nos trilhos, fica para trás

Você cai novamente no tédio, na mesmice

E nada muda

Sem bárbaros o que será de nós?

Eles eram a solução

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