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Uma carta ao passado

Para melhor experiência sonora, coloque fones de ouvido.

Olá, amigos,

 

    Não vamos nos apresentar com nomes, mas podemos dizer de onde viemos. Ou melhor, de quando viemos. Estamos em 2018, e há um certo grupo de pessoas em nosso tempo que conta uma história. Elas dizem que as pessoas de hoje são as mais informadas de todos os tempos e que daqui em diante só iremos melhorar. O estranho neste fato é que são exatamente estas pessoas que nos provam diariamente que nós mesmos vamos nos destruir.

     Em alguns anos, teremos mais plástico do que peixes nos nossos oceanos. O substituto do marfim, que veio cheio de boas intenções para acabar com a matança de elefantes hoje é a nossa principal ameaça. Mas poucas pessoas se importam com os recursos naturais. Nos parece que as pessoas nascem neste século já vêm com uma crença de fábrica que os fazem ter a certeza de que tudo é remediável. Para eles a água é infinita, e eu duvido muito que eles já tenham visto ou saibam o que é uma nascente. Rios perenes? Para eles todos são. E quem liga se algumas espécies de animais e plantas entraram em extinção? Para quem está no topo da cadeia alimentar e sai todos os dias para caçar no supermercado, o desequilíbrio ecológico não chega a ser um problema tão grande assim.

     Devo alertá-los, no entanto, para que preparem muito bem seus sistemas respiratórios. O ar seco corta a alma, e ele existe graças à esta fumaça maravilhosa que os donos de carros e fábricas adoram produzir. Exatamente às seis horas da tarde, quando o sol está se pondo, é possível ver uma linda e pesada faixa cinza no céu, e nem é preciso estar em um ponto alto da cidade. A tosse seca e narinas doendo são um show à parte. Recomenda-se levar lenços e colírio.

      Yes, you can! E você sempre poderá fazer melhor. Se pudéssemos dar apenas uma dica para sobreviver na sociedade de hoje com certeza não seria usar filtro solar. Faça sempre o melhor que você puder, e assim que você conseguir, faça melhor que isso. Seja melhor que todos os outros e use isso para se sentir superior. Passe na frente do maior número de pessoas que puder, e cultive rivais. A sua vitória só valerá a pena se você puder jogar na cara das “inimigas”. Não entendeu? Nem queira.

       Evite nascer em comunidades ou bairros pobres. Caso isso aconteça é bem capaz que você seja subjugado pela sua renda. E cuidado com a cor da sua pele, não estranhe se algumas pessoas trocarem de calçada quando te encontrarem. Mas se acalme, não precisa de desespero. Basta você trabalhar e estudar, e estudar, e estudar, e trabalhar, e estudar, e trabalhar, e trabalhar mais um pouco. Mas não tenha muitas esperanças de fazer uma faculdade se a sua renda é menor que dois salários mínimos. Até mesmo nas universidades gratuitas só tem gente que teve dinheiro para estudar em escolas particulares a vida toda. Se você não pagou um ano de cursinho, a faculdade pública não é o seu lugar. Existem exceções, mas elas só servem para confirmar a regra.

      Esta carta na verdade é um convite. Te chamamos e imploramos de joelhos ajuda. Construam uma sociedade para se orgulhar. Não matem os animais, direta ou indiretamente. Lembrem-se: o mundo já existia antes de nós, e não está aqui para nos servir. Os animais não são escravos e as pessoas diferentes de você também não são. Vivam uma vida circular. Reaproveitem, voltem ao início e reutilizem. Reciclem o seu pensamento antes de qualquer outra coisa e não se transformem em robôs.

      A crença de que tudo é descartável pré-programa a raça humana para a autodestruição. Esgotar, limitar, sabotar a própria existência a troco de que? A colunas curvas e os olhos grudados nas telas brilhantes já estão desgastados. O corpo humano, já automatizado, não funciona mais sem um relógio digital no bolso para controlá-lo.

       Abram os olhos, acordem deste transe. E caso isto dê errado e você se veja perdido, crie uma conta no Instagram e espere os patrocinadores entrarem em contato.

Atenciosamente,

Um grupo do futuro

Giovanna Borges

Edição de Som

Produção Textual

Giovanna Borges

Giuliana Abete

Julia Saraiva

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